um Natal inclusivo

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Vejo-o levantar o braço direito, e a mão aberta cede a vez, convidando o coro a cantar. Pequeno e habitual gesto, dir-se-ia, e, contudo, esse habitual e pequeno gesto levantou um aplauso gigantesco pela sala. A seguir ao seu solo, no melhor das suas capacidades, entrou o coro, no melhor das suas capacidades. Tenho ideia que seria a “Noite Feliz”, mas independentemente da peça que fosse, não havia dúvidas quanto à felicidade daquela noite.

A primeira canção tinha sido “The little drummer boy” cantada pelo coro e acompanhada ao tambor por três elementos de uma das associações. Um ritmo certo, caloroso, em que em cada batida se podia adivinhar o grau de empenho de quem ensaiou e de quem quis colaborar, feliz por ter tido essa oportunidade.

Aguardava sentado, controlando a ansiedade própria das estreias e dos espectáculos, o resto do grupo, que, quando chegou a sua vez, se dirigiu para as suas posições de actuação. Em meia-lua, talvez 10 elementos, no meio deles o maestro, e à sua frente a técnica de apoio, que servia de guia para os gestos que acompanhavam a peça. Uns gestos mais assim, outros nem tanto, umas frases mais perceptíveis, outras menos, mas o coração canta mais alto, e ouve melhor, e nele cabem todos os gestos de amor.

Atrás de toda esta cena, como pano de fundo, e ao fundo da Igreja, olhava-nos Jesus do sacrário, feliz! Podíamos vê-Lo nas caras comovidas e felizes dos elementos do coro “normal”, nos sorrisos abertos e felizes dos elementos do “coro especial”, no espanto e contentamento feliz da assistência deste concerto inclusivo. E, quase sem saber porquê, automaticamente sorríamos, porque a felicidade contagia.

No final do concerto tive oportunidade de ir dar os parabéns ao maestro, pelo trabalho duro que tinha sido ensaiar o seu coro habitual e os elementos das associações (de paralisia cerebral e de reabilitação) que tinham colaborado nesta iniciativa. Dirijo-me àquele homem, começamos a falar, mas não foi fácil encontrar os seus olhos; à frente, estava uma cortina de água cristalina, transparente, fresca, e lá atrás, num fundo do seu ser, estariam os seus olhos, à procura de alguma coisa que agora começava a encontrar. Aquilo que, eventualmente, tinha surgido como um desafio, com a falta de medição correcta que a distância inicial confere aos acontecimentos, tinha passado por horas e horas de tentativas e persistência, de alegria e falta dela, mas tinha finalmente resultado neste nascimento. O que tinha aprendido tinha largamente compensado toda a experiência, e isso era, por si só, já Natal.

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